quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quem é o seu amante? (Jorge Bucay - Psicólogo)

" Muitas pessoas tem um amante e outras gostariam de ter um.

Há também as que não tem, e as que tinham e perderam".

Geralmente, são essas últimas que vem ao meu consultório, para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia,apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc.

Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre.

Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.

Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:

"Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.

Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que precisam de um AMANTE!!!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.

Há as que pensam:

"Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas"?!

Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.

Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:

"AMANTE"

é aquilo que nos  "apaixona",

é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono,

é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.

O nosso "AMANTE "

é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta.

É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso "AMANTE" em nosso parceiro.

Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura,

na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto.... Enfim, é "alguém!" ou "algo"

que nos faz "namorar a vida" e nos afasta do triste destino de  "ir levando"!..

E o que é "ir levando"?

Ir levando é ter medo de viver.

É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado

cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva.

Ir levando

é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão, de que talvez possamos realizar algo amanhã*.

Por favor, não se contente com "ir levando"; seja também um amante e um protagonista ... DA SUA VIDA!

Acredite:

O trágico não é morrer, afinal a morte tem boa memória, e nunca se esqueceu de ninguém.

O trágico é desistir de viver...

Por isso, e sem mais delongas, procure algo para amar...

A psicologia após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:


"PARA ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ,

É PRECISO NAMORAR A VIDA".

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

AS TORRADAS QUEIMADAS

"Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de

fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu lembro

especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de

um dia de trabalho, muito duro.



Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, linguiça e

torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter

esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu

pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar

como tinha sido o meu dia, na escola.



Eu não lembro de que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele

lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando

por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

" - Amor, eu adoro torrada queimada..."



Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu

pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada

queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:



" - Companheiro, sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava

realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a

ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são

perfeitas. E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou

cozinheiro!"



O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas

alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma

das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e

duradouros.



Essa é a minha oração para você, hoje. De fato, poderíamos estender

esta lição para que  qualquer tipo de relacionamento: entre marido e

mulher, pais e filhos, irmãos, colegas de trabalho e com amigos.



Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio.

As pessoas sempre se esquecerão de que você lhes fez, ou de que lhes

disse. Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir.